terça-feira, 5 de junho de 2012

Crônica italiana I




Ciao

Em um dia normal na cidade de Roma, saímos pela manhã em direção a Universidade Salesiana para um encontro acadêmico de Silvana, encontro esse com um professor espanhol muito importante que é um dos estudiosos do Vaticano da “Causa dos Santos”. Pegamos um metrô e um ônibus e chegamos a distante universidade na hora marcada. Lá acontecia um grande encontro de católicos no qual o Brasil era o homenageado graças a “Jornada Mundial da Juventude” 2013 que acontecerá no Rio de Janeiro no próximo ano. Até ai tudo normal, os encontros aconteceram, a festa aconteceu e depois de tudo concluído saímos da universidade em direção a nossa casa. Pegamos um ônibus, descemos no Termini e resolvemos de lá, ao invés de voltarmos para casa, pegar outro ônibus com direção a San Giovanni in Laterano com o sentido de visitar, mais uma vez, a feira de roupas, calçados e utensílios que lá se encontra. Subimos no ônibus 714, que também nos levaria a nossa casa, e ficamos esperando o motorista entrar no transporte e começar o percurso. Dois minutos depois o motorista entra, liga o ônibus e sai bem devagar. Ao andar uns trinta metros o motorista pára o ônibus, pois o sinal estava fechado, e avistamos um cadeirante discutindo com um motorista de outro ônibus, mas não parecia ser nada demais – o cadeirante possuía uma daquelas cadeiras elétricas que facilitava a sua mobilidade. O sinal abriu, o nosso ônibus deu a partida e um metro depois para bruscamente. De repente começa um bate boca do motorista, ainda sentado na sua cadeira junto a direção. Depois ele se levanta, abre a porta do ônibus e desce, esbravejando, sendo seguido por uma das passageiras que também gritava e esbravejava. Então todos nós, passageiros, nos levantamos de nossos assentos, e fomos ver o que estava acontecendo. Pois bem, o mesmo cadeirante que brigava com o motorista ao lado, estava discutindo, agora, com o nosso motorista, afirmando que havia sido atropelado por nosso ônibus. Ai pensamos, mas como, se há dois minutos atrás ele estava ao lado de nosso ônibus discutindo com outro motorista, de outro ônibus e nos vendo acompanhar tudo? A discussão começou a ficar mais forte, agora os dois motoristas discutiam com o cadeirante e mandaram chamar os Carabinieri e o fiscal da ATAC que estava a poucos metros dali. Um dos passageiros, ao nosso lado, começa a resmungar: “- Não é possível um pais assim! Não existe mobilidade, rampas, espaços exclusivos para pessoas com necessidades especiais. Se fosse na Inglaterra ou França as coisas seriam diferentes... Ora somos o primeiro mundo, mas como assim?” E logo depois a senhora que havia descido gritando se volta para o senhor e diz: “- É, mas depende das pessoas. Me parece que o amigo lá embaixo é que provocou tudo.” E outra senhora ao lado diz: “ – Mas ele tem problemas e não tem como se locomover.” E logo depois outra pessoa se pronuncia e ficam os quatro discutindo sobre a situação do pais e os portadores de necessidades especiais, enquanto o motorista volta ao ônibus ainda discutindo com o cadeirante, já não mais a frente do ônibus, e o fiscal da ATAC. Quando senta na cadeira, o motorista ouve a mulher que defendia o cadeirante e começa a discutir com ela também: “- Ele que provocou tudo, já tinha se jogado na frente do outro ônibus e agora na frente do meu. Deve estar querendo alguma coisa”. E a mulher ficou indignada, dizendo que tinha visto tudo e que ele é que tinha saído de forma brusca e atropelado o cadeirante, e o motorista retrucava: “ – Como atropelei se se quer bati nele, veja, ele saiu intacto.” (Isso já se passavam mais de dez minutos de discussão com o ônibus parado no meio da rua). Com isso o passageiro ao lado, que já havia se pronunciado quanto as questões de mobilidade continuava a discutir com a outra senhora: “- Não é possível ser assim, somos muito mal governados”. E a senhora afirmava que aquilo não tinha nada haver com o que ele dizia, e ele retrucava: “ – Como não? Onde está nosso dinheiro?” De repente, a discussão tomou conta de todo o ônibus, estávamos apenas nós dois e duas freiras calados, ouvindo e, por vezes, até rindo com aquilo, parecia cena de filme – Italiano é claro. De repente, o senhor da mobilidade botou fogo na história inteira com uma infeliz afirmação: “- Onde está nosso dinheiro, na África? Se isso aqui fosse lá tudo bem”. Foi o ponto de ebulição, as duas freiras, caladas como nós, eram africanas, e conseguiram gerar um minuto de reflexão e, por tabela, a nova partida do ônibus com uma frase bem aplicada: “ – Na África somos pobres sim, mas não temos este tipo de comportamento. De onde será que vem todo este dinheiro deste seu primeiro mundo?” Depois de um minuto de reflexão silenciosa, com o ônibus andando, as discussões continuaram e o ônibus italiano voltou a ser ele outra vez: as discussões continuaram até a nossa descida em San Giovanni in Laterano.

*É muito comum aqui em Roma, e já vivenciamos isto centenas de vezes, sem exageros, as discussões no trânsito. Cansamos de ver motoristas de ônibus saindo dos seus transportes, deixando o transito parado, para bater boca com um motoqueiro ou com um outro motorista por causa de uma besteira qualquer, nos parece que a cultura italiana, e ousaríamos dizer até europeia, é baseada nas fortes discussões – ainda bem que elas não passam da verbalização.


E para a diversão de todos, postamos este vídeo muito divulgado por aqui sobre a Itália em comparação com os outros países da comunidade europeia.



Ciao e até o próximo post.

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